Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
E-mail: padredario@gmail.com; Twitter:
@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

sabato 18 giugno 2016

Essa luta é um espetáculo!



A luta de Piquiá de Baixo vem sendo conhecida ano após ano dentro e fora do Brasil. É grito de uma comunidade injustiçada pelo progresso poluído e a desordem gananciosa do capital da mineração e siderurgia.

Como dar voz a essa comunidade, para que ecoe ainda mais o clamor de suas manifestações de protesto, de suas reivindicações por saúde, moradia e vida?
Como evitar que, mais uma vez, as periferias de nosso País sejam consideradas como zonas de sacrifício, regiões de pessoas pobres, fáceis de iludir com a promessa de desenvolvimento?
O que acrescentar à mobilização popular, para confirmar a dignidade de quem defende os direitos coletivos e empoderar uma comunidade que busca justiça e paz?


A beleza.
Contra toda sedução efêmera, a beleza se abraça à resistência e torna a luta do povo inesquecível, contagiosa. Deus abençoe: que essa beleza abra uma nova visão até para quem nem quer olhar nos olhos de suas vítimas!
Tateando atrás dessa intuição, a quadrilha junina “Matutos do Rei” de Açailândia-MA ofereceu sua arte de quadrilha estilizada à causa da comunidade de Piquiá de Baixo, bairro daquele município.

Há dez meses o grupo se debruça sobre esse tema. É um grande desafio recolher num curto espetáculo de 25 minutos quase dez anos de história de luta de centenas de pessoas.

Acontece como num namoro: quando há paixão, as forças se multiplicam, o cansaço parece desaparecer... a esperança é tão intensa que ultrapassa o horizonte. Mais de cento e vinte jovens da cidade se apaixonaram por esse desafio e abraçaram a causa de Piquiá de Baixo.

Alguns nem conheciam a história desse povo, outros que vêm daquela própria comunidade dançam e cantam com ainda mais razão: “Povo: força, festa e fundação! Há de rebentar sempre novo dia, rebentando o amor!”.

A quadrilha estilizada, para quem não conhecer esse gênero, é uma recriação da tradicional quadrilha junina do nordeste, unindo às raízes culturais da quadrilha matuta a criatividade de um conto de amor dramático, romântico ou satírico e o vigor de figurinos, cenografias e coreografias próximas ao gênero carnavalesco.
 
A aliança entre os jovens “brincantes” e a comunidade em luta para o reassentamento coletivo, livre da poluição, foi selada numa tarde de domingo, quando esses dois grupos de “guerreiros” se apresentaram entre si; os moradores de Piquiá de Baixo colocaram no dedo de cada jovem um anel de tucum, compromisso por justiça e pela vida dos mais pobres.

Numa sequência de 13 músicas e coreografias, alternadas a trechos de narração teatral, conta-se a indignação dos moradores de Piquiá de Baixo, a sedução das empresas, o perigo da divisão da comunidade, o drama de decidir se permanecer ou lutar coletivamente em busca de uma nova vida longe da fumaça. 
Uma coroa feita de colheres brilha na cabeça de cada brincante: representa o povo rei de si, empoderado pela fome de justiça.

A quadrilha já dançou em frente a juízes e promotores de justiça na cidade de Açailândia, apaixonou milhares de pessoas ganhando no Arraial da Mira na cidade de Imperatriz e agora segue para se apresentar em outras cidades do Maranhão e do Brasil.

A cada batida de sua dança no tablado do arraial, sente-se o ritmo da luta de todas as comunidades que não se resignam, que levantam a cabeça e se afirmam em seus territórios.
Piquiá de Baixo: reassentamento já!


giovedì 9 giugno 2016

Novos espaços às mulheres na Igreja




Recentemente, durante uma sessão junto à União Internacional das Superioras Gerais – UISG, Papa Francisco foi interrogado a respeito da possibilidade de conceder o diaconato permanente também para as mulheres. O Papa decidiu criar uma comissão para estudar formalmente, mais uma vez, a possibilidade de diaconisas na Igreja.

Trata-se de um tema que já foi enfrentado cerca de 15 anos atrás por uma comissão teológica internacional, a pedido da Congregação pela Doutrina da Fé, e que permanece aberto e desafiador. É urgente atualizar a teologia da mulher dentro da Igreja Católica.

No Sínodo dos Bispos de 2015, o arcebispo de Quebec Paul-Andre Durocher também tinha levantado essa questão: “Sempre que possível, mulheres qualificadas deveriam receber posições mais altas e de tomada de decisão de autoridade dentro das estruturas da Igreja e novas oportunidades no ministério”.

É bem verdade, como sempre repete Francisco, que ser membro do clero não é a única maneira de ser importante na Igreja Católica e que o caminho para diminuir o poder e o controle dos homens dento da Igreja não é somente o acesso das mulheres a uma das ordens sagradas.
Por outro lado, como bem comenta desde os EUA o relevante jornal católico online Crux, “ver uma mulher ajudando a conduzir a comunidade nas celebrações seria um simbolismo poderoso”.
Mais uma vez, Papa Francisco instiga com suas atitudes um debate público e um discernimento comunitário, que até agora ficava mais facilmente discutido em círculos restritos e qualificados.

Creio que nossas práticas pastorais podem valorizar mais o papel e as potencialidades da mulher, na vida cotidiana das comunidades e na incidência quanto à organização e institucionalidade da inteira Igreja.
Vejamos, por exemplo, algumas atenções na liturgia que podem provocar a comunidade a refletir sobre uma maior inclusão das mulheres, reconhecendo formalmente o papel que no cotidiano elas assumem, muitas vezes com mais dedicação e fidelidade que os homens.

Às vezes, quando celebro a missa, peço que seja uma mulher a proclamar o Evangelho, em lugar do padre. Creio que isso contribua a retirar da cabeça dos fiéis a percepção que a Bíblia e sua interpretação é “propriedade do padre”. Valoriza-se, assim, a figura de Maria que guardava a Palavra e as ações de Jesus no profundo de seu coração, bem como o primeiro anúncio da Páscoa, que nos veio através das mulheres.
Nossa diocese tem trabalhado muito na formação dos Ministros da Palavra. Entre eles, há muitas mulheres. Uma homilia feita por uma mulher (ainda mais cheia de sabedoria e experiências de vida quando esposa e mãe) traduz muito concretamente a Palavra de Deus em Boa Nova para o dia-a-dia de nossas famílias.

Quando celebro, costumo pedir no final da missa uma avaliação da missa e da homilia à equipe de liturgia, prestando particular atenção à opinião das mulheres. Na hora da consagração, não me sinto bem ao perceber o presbitério vazio, vendo todos os fiéis lá em baixo, quase como público que assiste à réplica da ceia eucarística. 
Faço questão de chamar os Ministros da Liturgia em volta do altar, tentando reconstruir o máximo possível a dimensão circular da refeição, lembrando que na última ceia (diferentemente da iconografia tradicional) estavam presentes homens, mulheres e provavelmente crianças. 
A distribuição da Eucaristia, na hora da comunhão, é feita pelas Ministras da Eucaristia: é importante que elas sejam valorizadas na liturgia solene da comunidade reunida, que se conecta à liturgia cotidiana de suas visitas a doentes e idosos, levando o Corpo de Cristo a suas casas.

Muitas vezes a prática cotidiana da pastoral, da liturgia e da organização da comunidade em seus conselhos, ministérios e grupos antecipa e provoca decisões formais que podem se tornar doutrina consolidada.
Vamos então ensaiar, com criatividade e respeito, práticas que abram novos espaços às mulheres na Igreja. 
O Espírito Santo, Ruah, que também tem gênero feminino, nos inspire e acompanhe.